sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A VINGANÇA DAS ADOLFINAS

Trabalhando no horário dos happy hours, professoras de Direito criaram o grupo.
 
Cansadas de ficar de fora dos happy hours das amigas porque lecionam à noite, um grupo de professoras de Direito resolveu se vingar. Certa noite, no começo de 2009, decidiram sair depois da aula para fazer o que as companheiras “normais” faziam no fim de tarde. Tomar espumante e comer bem.
 
No encontro original, foram ao restaurante Constantino, em Porto Alegre. Eram oito colegas, cada uma pediu seu prato e abriram um Adolfo Lona Brut Rosé. O espumante desceu perfeito, arredondado pelo gosto de vingança contra um mundo que as excluía do horário de happy hour. Foi o embrião da confraria. Hoje, elas são 22. “Só entra professora de Direito e só se toma Adolfo Lona”, conta a integrante Flávia do Canto Pereira. A criação oficial do grupo e a escolha do nome - Adolfinas, uma referência à marca que as conquistou e uma sonoridade “que ficaria chique”, segundo brincou a confreira que o sugeriu, Marília Gabriela Volpato - ocorreram apenas em um segundo encontro.
 
As Adolfinas são o retrato de uma tendência que cada vez mais chama a atenção das vinícolas e dos especialistas: a associação entre mulheres e espumantes. Para o presidente da Associação Brasileira de Enologia, Christian Bernardi, a leveza e a delicadeza dos espumantes são associadas ao universo feminino, assim como a natureza rude do vinho tinto é ligada ao comportamento masculino: “É uma combinação de fatores que leva os homens e as mulheres a gostar mais de uma ou outra bebida, mas o principal é que as características dos produtos se assemelham com cada gênero”.
 
“As mulheres fogem do vinho tinto porque mancha a boca”, conta o sócio da vinícola Dom Cândido, Carlos Valduga. Paraele, um dos produtos que ingressa mais facilmente no universo e no paladar feminino é o moscatel, mais suave e que também serve como produto de entrada, mais tarde substituído pelos brut, após as apreciadoras se acostumarem.
 
Uma das características das Adolfinas é o jeito leve com que levam a confraria. Para elas, o espumante é menos um objeto sagrado de culto do que um pretexto para se reunirem e colocarem os assuntos em dia, embaladas pelas borbulhas. “A confraria não é uma responsabilidade, é um prazer”, afirma Martha Sittoni, a presidente do grupo, que se reúne uma vez por mês para comer e beber na casa de uma confreira. “Não somos entendidas de vinhos, a gente só curte tomar”, resume a integrante Fernanda Medeiros.
 
Enquanto degustam a Adolfo Lona, as professoras, a maioria também advogada, batem papo sobre restaurantes, compras e viagens. Uma sexóloga já foi contratada para animar a conversa em um dos encontros. Quanto às outras amigas, aquelas que se reúnem regularmente no fim de tarde, aquelas que não são professoras, algumas já sentem até uma pontinha de inveja das amigas juristas. “Minhas amigas todas querem entrar. Mas não deixamos. A gente surgiu justo porque não conseguíamos a ir aos happy hours por causa do nosso horário”, vinga-se Flávia.







Nenhum comentário:

Postar um comentário