Outro dia, dia desses, assistindo um desses “enlatados” norte-americanos (ainda se fala desse jeito?) que eu adoro, ouvi uma personagem dizendo: nunca pensei que eu seria uma goodwife... A velha e conhecida caracterização da “Amélia”, aquela que era mulher de verdade! E comecei a refletir (filosofia de qualidade, ein?!) nos rumos que a vida leva. Pensando na fase das escolhas. O que eu quero ser? O que gosto de estudar? Que línguas vou dominar (pra essa última pergunta a resposta vem quase como uma oração: - senhor, faça com que a gente saiba, ao menos, o português!)? do passado olhando para o futuro, vejo que se sonhava várias coisas para o agora que vivemos, eu sonhava. Já havia determinado o marido, os filhos, a carreira. Era fácil, mas a vida surpreende! Em uma inversão cronológica saiu o marido (ou o que era mais próximo disso) e vieram os namorados, as paqueras, os filhos ainda não vieram e a carreira vai de vento em popa! E é exatamente quanto a isso que paira a minha vã filosofia. Sempre desejei ser professora (o histórico familiar foi um grande estímulo), mas nunca pensei que, dentre tudo que eu faço (que não é pouco), o magistério seria a atividade que mais me ocupa. A hora que se passa em sala de aula não é a medida para saber o quanto de tempo, estudo e dedicação se despende para a realização da atividade. Quanto tempo para elaborar uma boa aula? Umas quatro horas? Quanto tempo para elaborar uma boa prova? Umas duas horas? E quantas horas mais para a correção? E não se pode olvidar a tecnologia. Hoje temos que publicar notas na internet (portanto não basta corrigir as provas e devolve-las), fazer chamada on line (depois de já ter feito na modalidade presencial) e, de uma forma ou de outra, nunca sair da frente do aluno (afinal estamos sempre em contato: e-mail, MSN, moodle, facebook, Orkut e o que mais se inventar!) e temos que estar sempre à disposição. Isso é ruim? Não, claro que não, mas cansa. Pra ser professor tem que ter nascido com alma de RP! Com espírito de artista mambembe, daqueles que encaram qualquer tipo de palco e platéia. Gostar de conversar, de conhecer gente nova (e o mais legal, ter a chance de manter a alma sempre nova). Tenho grandes amigos que foram alunos (e, pra dizer a verdade, hoje a gente nem se lembra mais disso). Ocorre que, tudo isso envolve tempo e dedicação. Quase a totalidade dos professores universitários que conheço (ao menos os do Direito), trabalham três turnos direto (diariamente). Além do conhecimento, temos que usar, ainda, outro instrumento: a voz! Bah, pensem só, as vezes ministramos de 8h a 12h seguidas de aula (e ninguém nos ensinou a postar a voz, a poupar cordas vocais, como se faria com um ator de teatro, por exemplo). Haja gogó! Portanto, para cada uma hora de sala de aula, temos quatro horas de estudo (nossa razão é de 1h/4h, em média). Vejam só: para um professor que leciona 8h/aula em um dia, na realidade ele utilizou 32h de seu tempo. Claro, tudo isso sem contar as especializações, os 2 anos de mestrado e, ainda, os quatro anos de doutorado. Quase não existe mais professor, pelo menos no Direito, que não possua mestrado! Logo, todos são extremamente preparados, buscaram a qualificação para atuar no magistério superior (completamente fora de moda o professor contador de causos e sem nenhum conteúdo – esse modelo pode até ser divertido, engraçado, showman, mas não agrega em nada o conhecimento). E tudo bem, vá lá, é raro encontrar professor que não tenha outra atividade! Advogados, juízes, promotores, defensores, procuradores e por aí vai! Afinal, temos que preencher os três turnos de trabalho diário (quem foi o engraçadinho que defendeu essa história de emancipação feminina e me faz trabalhar 15 turnos por semana em 3 cidades diferentes? Brincadeirinha...). Mas poxa, magistério, assim como as outras profissões, exige preparação, muito estudo, dedicação e paixão. Então, só para registro, dá vontade de pular no pescoço quando me perguntam: tu trabalha ou só dá aula???